quarta-feira, 22 de abril de 2009

Filosofia para todos e para ninguém

Será que pensar demais faz mal?

Como seres humanos, acredito que todos nós temos a maniazinha incessante e manipulativa de calcular possibilidades, de tentar prever o futuro, até delimitá-lo ao ponto que nos interessa. Se Júlio Emanoel quer convidar Mariazinha para ir ao cinema, não interessa a ele a possibilidade da menina dizer um belo e rotundo "não"; ou o, ainda mais deprimente, "prefiro que continuemos como bons amigos. *Sorriso colgate*". Para o nosso pobre amigo de nome-duplo apenas o "sim" - limitado, uma ínfima possibilidade diante de um mar de expectativas - vale a pena de ser ouvido.
Então, no sentido de alcançar sua árdua tarefa da vida cotidiana (Quem disse que amar não é de certo modo viver uma Epopeia??), o camarada J. E. batalha para tornar o "sim" mais próximo de seus ouvidos. Manda flores para Mariazinha, escreve poemas, gasta dinheiro para ver seu sorriso - nem que seja manchado de bombom de chocolate! E...
Ela diz o (agora ainda mais deprimente) "prefiro que continuemos como bons amigos. *Sorriso colgate [combo triplo]*"
Por que será que as coisas aconteceram assim? Se Júlio Emanoel era um ótimo amigo, divertido, companheiro, não-fumante, escoteiro honorário e doador de órgãos porque raios ele não
faturou a mina, véi?!

Está aí uma boa pergunta. Responda-me você!

Por outro lado a história podia ser outra. Um dia J.E. decide ir para uma festa, desanimado com o último toco que recebeu (Chiquinha, aquela malvada!), e lá, como quem não quer nada, encontra a mulher de sua vida: a Nandinha! (ok, eu paro com os diminutivos.)
Eles se conhecem melhor, namoram, casam, têm filhos e vivem felizes para sempre. Finish.

No primeiro caso, ele planejou, tentou delimitar suas possibilidades, usou e abusou de sua criatividade para conquistar a menina. E falhou.
Mas depois, sem querer, não forçando nada, apenas deixando as coisas fluírem, ele foi feliz. Ele podia ter falhado também, óbvio (afinal, a imensidão de possibilidades de resposta ainda estavam lá), mas por um milagre divino, teoria do caos ou simples "cagada" monumental, ele conseguiu o que não tinha dado certo enquanto forçava a barra.

O que me leva a questão que introduziu este post: será que pensar demais faz mal?

Quando desejamos muito alguma coisa fazemos todo o possível para torná-la uma realidade, e isso implica em muito planejamento, ansiedade e esforço. De fato, muitas vezes conseguimos graças a tudo isso (se você conseguiu passar no vestibular sem pregar o traseiro numa cadeira em nenhum instante: a- você é super-dotado; b- você sabe colar muito bem).
Só que zelo não leva, necessariamente, à conquista. Pode dar satisfação, segurança e até felicidade. Mas nem sempre as energias postas no jogo parecem alcançar seu objetivo principal.
E por isso a gente se frustra.

Friedrich Nietzsche, um filósofo muito famoso que amo, costumava a dizer que os "fortes" (aqueles que se aceitam como são de fato, sem se deixarem abater por preconceitos hipócritas) não planejam: eles vivem a vida sem a circundarem com paredes, aceitando a felicidade que vem mesclada com as nossas doses diárias de sofrimento. E POR ISSO são felizes: porque eles não tentam impedir a tristeza. Sabem que é um movimento inútil.
Particularmente, aceito essa visão com algumas ressalvas. Não dá para ser "forte", na conceituação nietzschiana, o tempo inteiro. Nesse mundo competitivo nosso, menos ainda.
Mas acho que é uma ideia bonita, muito gostosa, na verdade. É preciso mesmo ser "forte" para alcançar esse estágio...
Só a título de curiosidade: Nietzsche, com toda a sua inteligência e sabedoria (virar professor da universidade de Basiléia aos 23 anos, influenciar toda uma geração filosófica posterior a sua morte, e ser considerado um dos maiores filósofos da história humana, não é para qualquer um), morreu sozinho, louco e mal-compreendido. O mesmo sujeito que compreendeu, como poucos, o interior da alma humana foi incapaz de ser "forte" como aquilo que teorizava (desconte-se o cancro no cérebro que o fez perder as faculdades mentais).

Pensar e viver, provavelmente, são coisas muito diferentes...

Psicologizam-se as vontades, humaniza-se o inanimado, inventam-se razões... Tudo para facilitar nossas escolhas e nos dar um pouco mais de segurança num universo onde nada é 100% certo.
Mesmo no momento em que escrevo agora, ou quando dou conselhos amorosos (assustadoramente acertados!) para meus amigos, faço isso. Todos nós fazemos. Mesmo que, na vida real, seja muito mais complicado de levar à prática.

Por isso, digo que vivemos tentando controlar tudo ao nosso redor.
E por isso mesmo é que essa é uma filosofia que serve para todos e para ninguém... Alguém aí discorda? :]


Obs: Todos os nomes mencionados são meramente ficcionais. Se você se chama Júlio Emanoel e é apaixonado por uma Mariazinha, eu não sei de nada! Coincidências acontecem!